quarta-feira, 12 de setembro de 2012

DEIXAR A SI MESMO..



Deixar a si mesmo é partir sem ter a necessidade de deixar ou encontrar um lugar. Podemos nos deixar sem esforço, podemos partir, mas permanecer onde estamos. Deixar de si mesmo é também e simplesmente, ausentar-se.

Deixar de ir, de marcar presença, deixar de opinar pode ser positivo. Abrir mão do direito de resposta, deixar de esperar, diminuir as expectativas, faz parte do processo de negação do eu.

Não mover uma palha, não alterar o tom, não induzir, deixar de ter razão é uma etapa a ser vencida, se quisermos nos reinventar. Manter-se em silêncio, desaparecer por um tempo tem sua elegância. Há um charme nisto.

Deixar de si mesmo é sair de cena. Não querer que a luz do teatro foque em seu personagem é amadurecer. Deixar-se em paz até que seu “eu”verdadeiro se manifeste é evoluir.

Ir embora de nós mesmos é ficar offline. É espiar pela janela enquanto alguém bate no portão, é dopar seu ego.

Deixar a si mesmo não é ficar estático no meio da estrada mas, antes de tudo, é caminhar para dentro, percorrendo uma estrada interna, por um caminho que pode levar um longo, longo tempo.

Autora: Carla Roberta Nunes

segunda-feira, 9 de julho de 2012

PACIÊNCIA

Sentei na poltrona número 4. Ela guardava suas coisas e se ajeitava para a viagem. Sentou-se ao meu lado na janela, ligou seu notebook branco da LG, colocou seu fone de ouvido e começou a jogar paciência, com o ônibus ainda parado.

Era uma menina lourinha, não muito alta, cabelos enrolados e levemente desajeitados, magra. Não tinha mais de 20 anos, tinha cara de uma adolescência  não vivida completamente. " Tomara que não demore", disse ela, em tom firme e com uma voz tão grave, que me fez duvidar de sua suposta imaturidade.

O motorista deu a partida e começamos a nossa curta e interminável viagem. A música do fone de ouvido da garota, estava tão alta que chegava a me incomodar, me irritei por um tempo, depois desisti de ficar irritada. Ela balançava a cabeça e de vez em quando sussurrava a letra da música. Pelo reflexo de seu rosto no visor do notebook, percebi que ela sorrira, várias vezes.Parecia feliz, tranquila e sem grandes problemas. 

Abri meu livro, li não mais que uma página e meia, fechei. Dormi. Acordei, e ela ainda jogava paciência. A música continuava alta, estourando o fone de ouvido. Parecia ser uma pessoa paciente. Ajustei minha poltrona e tentei voltar ao meu primeiro sono. Não consegui. Coloquei também meu fone, na tentativa de competir com a trilha sonora dela. Cinco, dez ou quinze minutos depois, cansei, queria silêncio, desliguei o celular, e ela ainda jogava e cantarolava.

No plano de fundo de seu mini-computador, estava uma foto dela com um cachorro preto, provavelmente seu, pois na foto, os dois pareciam íntimos. Certamente, era uma menina feliz. Dei uma olhada rápida no notebook, a fim de saber quanto tempo de bateria ainda restava, constatei, que teria de aguentar aquele barulho até a rodoviária.

No meio da caminho lhe ofereci uma bala, que ela educadamente recusou. 
"Não, obrigada", falou sorrindo. Tinha os dentes brancos e bem alinhados, ela tem sorte, pensei.

Tocou uma música conhecida no fone dela, e eu me torturava pra lembrar o nome da cantora, fiquei numa agonia que só, eu precisava lembrar o nome de quem cantava, a canção era linda, ela tinha bom gosto também. Com a voz embargada e constrangida pelo silêncio no ônibus, me arrisquei, toquei no braço dela leve e delicadamente, perguntando com voz trêmula:

- Quem canta essa música?
- Pink. O som tá muito alto? Tá te incomodando?
Não tive coragem de confessar que eu estava irritada desde o inicio. 
- Não, imagina, o som é bom. Falei sem graça.

 Comecei a prestar atenção no estilo musical da jovem. Tínhamos quase o mesmo gosto, se não fosse a nossa pequena diferença de idade. Conhecia a maioria dos hits em seu mp3. Pela playlist, não era tão feliz quanto eu imaginei. Gostava de canções tristes, como ''Love Is A Losing Game'', da Amy. Carregava consigo uma certa tristeza, certamente. Talvez não se desse bem com os rapazes.

Priscila, dei-lhe o nome de Priscila. Não sei porque, mas desde o momento que chegou, achei que lhe cabia esse nome.

Na primeira parada, ela desligou o computador e o MP3, ainda bem, faltava apenas 15 minutos para terminar a viagem, mas agradeci silenciosamente. O celular dela tocou, atendeu dizendo, em tom saudoso: 

- Oi mãe, tô chegando. 
- Sim, depois vou lá no Felipe.
-Estudar pra prova.
-De engenharia mecânica, Mãe! Do que mais?
-Tá, tchau.

Pelo jeito, cursava ou pretendia cursar engenharia mecânica, talvez por isso sofria com os rapazes. Talvez por isso não fosse tão alegre, talvez nisso estivesse a sua tristeza. Por isso talvez, jogava paciência.





À excelentíssima, Sra. Calma

Onde estás, oh calma?
Eu preciso tanto de ti agora.
Eu preciso parecer lúcida.
Calma, está evidente a minha loucura?!


Oh Calma, sente-se comigo um pouco,
Preciso que me aconselhes;
Que coloques um bocadinho de juízo na minha cabeça;


Eu entendo tudo que me dizes Calma;
Ah sim, eu entendo;
Só não entendo o nosso silêncio.


Vamos resolver a questão, é fácil;
Chega de pausa!
Tu vens comigo ou vá com ela. Decida!


Estás do lado dela, não é, Calma?
Então só faça o favor de explicar-lhe uma coisa, urgentemente;


Que se ela me quiser, eu lhe darei a alma,mas ela precisa querer-me.


Autora: Carla Roberta.





















quarta-feira, 3 de agosto de 2011

VERSO

Sou do amor, do amor em excesso.Às vezes até da dor pelo amor eu sou.Às vezes me dou, às vezes me reservo. As vezes me dou o direito de não amar. Carla Roberta

terça-feira, 26 de julho de 2011

Os versos mais tristes..P.N

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.


Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,

e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.



Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu amei-a e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta tive-a em meus braços.

Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.



Ela amou-me, por vezes eu também a amava.

Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.



Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.

A noite está estrelada e ela não está comigo.



Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.

A minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.

O meu coração procura-a, ela não está comigo.



A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.

Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.

Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.



De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.

A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.



Porque em noites como esta tive-a em meus braços,

a minha alma não se contenta por havê-la perdido.

Embora seja a última dor que ela me causa,

e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

terça-feira, 15 de março de 2011

NICOTINA


Acendo um cigarro e me incendeio com ele.
Penso nela e isso me faz arder.
Há dias e nenhum sinal, nenhuma manifestação.
Inspiro e expiro o smog , mas eu não me vejo apagar.
Quem dera acabasse o filtro, a minha saudade fosse embora também.

Ela me diz: Não fume, não faça isso, é proibido fumar.
Pego meu cigarro e vou pra outro lugar.
Passados alguns dias e ela finge não se importar.

Cheira minhas roupas, procura resquicios em mim encontrar;
não há nada além de um bom Noir (ar).

Minhas rimas são tão pobres e eu não curto cigarros fortes.
Os poetas usaram todas as palavaras e não deixaram uma sequer, para fazer uma canção pra ela.
Caminho comigo mesma, me convido a passear.
Não vou dormir pra não ter que acordar.

Autora: Carla Roberta.




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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Les etoiles- Melody Gardot

Olá amigos!

Quero compartilhar a doce música de Melody Gardot ''Les etoiles'' (Les etuá), quando ouço, me vejo em uma madrugada nas ruas de paris, sozinha. Só eu, a minha cigarrilha, e um riso solto de liberdade..


Aproveitem....